A Ciência dos lutadores de Superelite - Como se formão os grande campeões.

13/04/2012 12:23

A Ciência dos lutadores de Superelite




Há muito tempo que é notória dentre especialistas do Treinamento Desportivo a distinção entre os atletas de elite e outros lutadores de nível iniciante ou intermediário. A principal característica para um atleta ser considerado de elite é a classificação frequentemente “no pódio” entre os três primeiros lugares em competições regionais, nacionais e internacionais.

Atualmente foi incorporada mais uma divisão. Nela, são distinguidos os atletas de elite de um grupo “novo”: os considerados de superelite. São considerados lutadores de superelite os atletas classificados somente em primeiro lugar em competições relevantes e oficiais.

Já se sabe por meio de estudos que os lutadores de superelite possuem características técnico-táticas superiores que os difere dos atletas classificados em segundo e terceiro lugares. Verificou-se que todos os atletas tinham aptidão física elevada, de modo que ter excelente preparo físico está no bojo do alto rendimento. No entanto, somente isso não garantia a presença no lugar mais alto do pódio. Assim, pode ser que exista algo a mais para somar à capacidade técnico-tática: condição psicológica ideal para o alto rendimento.

Partindo da premissa de que o atleta já está no grupo de elite, como conseguir melhorar ainda mais a performance para que ele consiga chegar no topo do esporte e faça parte do seleto grupo dos superelite? As quatro sugestões que seguem não encerram a discussão sobre o tema; contudo, podem auxiliar atletas, técnicos e outros profissionais responsáveis pelo preparo dos lutadores. Vejamos:

Prática deliberada: Treinar os golpes e praticá-los facilita muito quando determinadas condições são cumpridas. Atletas de elite treinam mais do que os iniciantes e intermediários, mas conseguir os melhores resultados exige qualidade, não apenas maior quantidade de horas de prática. Para a prática produzir mais resultados, o lutador deve primeiro ser motivado a participar da tarefa e também estar trabalhando ativamente para melhorar o desempenho. Também é fundamental que receba respostas imediatas e específicas (feedback) sobre seu esforço, baseando-se na premissa de que repete determinada tarefa planejada mais de uma vez para poder verificar a evolução. A prática deliberada exige que você mantenha o foco, monitore e, se necessário, modifique seus comportamentos para melhorar sua habilidade.

Treinamento para o alto rendimento: De modo geral, técnicos (Sensei, Professor ou Mestre) mais graduados tendem a ter níveis mais elevados de conhecimentos específicos da modalidade e planejam sessões práticas com mais cuidado. Costumam ter conhecimento aprofundado das táticas, técnicas e aspectos gerais podendo ajustar o tipo de ensino às necessidades do lutador (e de seu nível de habilidade). Com os atletas de elite, tendem a direcionar a maior parte do tempo discutindo detalhes táticos em vez de rever fundamentos básicos. Alguns cientistas, após estudar diversos treinadores de atletas de elite e superelite, concluíram que o planejamento meticuloso da prática é uma característica relacionada à expertise e especialização do treinador. Foi constatado que os treinadores de atletas de superelite investiam mais tempo no planejamento e eram mais precisos em suas metas e objetivos para a sessão de treinos livres (Sparrings – MMA; “rola” – Jiu-Jítsu e Submission) do que os treinadores dos atletas classificados em segundo e terceiro lugares.

Acompanhamento multidisciplinar: A formação de um atleta de elite ou superelite exige avaliações sistemáticas e contínuas de todos os requisitos necessários para o alto rendimento. Dentre eles, destacam-se os componentes técnico, tático, físico, psicológico, médico e alimentar. O MMA abriga dia após dia novos praticantes, mas muitos atletas e academias não estão preparados (estrutura) para a excelência na formação de um atleta de elite. No Brasil, celeiro dos maiores atletas, as dificuldades são compensadas pelas habilidades técnico-táticas e pela mitológica capacidade de persistir e resistir dos brasileiros. Muitos com pouca infraestrutura conseguiram a duras penas entrar para o grupo de elite ou superelite. Contudo, tudo poderia ser bem mais fácil se contassem com acompanhamento multidisciplinar. Muitos atletas norte-americanos, australianos, canadenses, japoneses e europeus contam com apoio de psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta, médico, etc. Com toda certeza esse fato facilitou a ascensão meteórica de muitos estrangeiros no MMA. Diversos atletas de elite dos eventos norte-americanos UFC e Strikeforce, realizam ou já realizaram treinamentos assessorados por cientistas de centros de excelência como o Olympic Training Center e o Instituto Australiano de Esportes. Além desses, temos conhecimento de que instituições militares norte-americanas apóiam incondicionalmente atletas-militares que participam de eventos de MMA. Em todas essas instituições e centros, o atleta é avaliado em cada área. É monitorado e seu planejamento competitivo é modificado dentro de um plano de longo alcance para estar em nível ideal nas datas específicas das competições.

Ambiente de treinamento: Se o lutador viver sob vigilância constante sobre todos os aspectos de sua preparação e vida pessoal – com pressão implacável para ser bem sucedido – pode ser alocado em um ambiente muito estressante rapidamente. Atletas, treinadores e outros profissionais responsáveis pelo preparo dos lutadores devem ficar atentos sobre o “clima” do ambiente de treinamento. Estudos indicam que os atletas acreditam que o treinador é a principal força na criação do clima motivacional. Verificou-se que os atletas de superelite tendem a preferir e responder melhor a um clima motivacional que enfatiza o domínio (aprendizagem, aquisição de competência física e/ou técnico-tática) do que o desempenho (resultados, ganho de competições). Os atletas nesse nível de excelência devem ser cercados por outros indivíduos que compartilham de seu compromisso com a aprendizagem de alto nível. Eles querem ser desafiados, mas também querem apoio, amizade. Afinal, é difícil se concentrar inteiramente nos treinamentos quando se está inseguro sobre a estabilidade de seu relacionamento amoroso, familiar ou situação financeira.



Leandro Paiva


Referência: Paiva, L. Pronto Pra Guerra: Preparação Física Específica para Luta & Superação. 2.ª Edição. Amazonas: OMP Editora, 2010.

https://prontopraguerra.blogspot.com.br/2010/08/ciencia-dos-lutadores-de-superelite.html